Painel do Mundo
Por Márcio Bariviera (24/07/2022)
Era uma daquelas brigas de crianças pré-adolescentes. Eu tenho razão pelo simples motivo de que você não tem, quem errou foi ele, essas coisas. Quem não teve uma rusga desse tipo na vida, lamento, não teve uma pré-adolescência completa.
O bom de tudo isso era o “pós-briga”. Depois do acerto parecia que a amizade ficava ainda mais fortalecida. E se transformava nisso porque um sentia a falta do outro, porque o vazio daqueles dias sem o amigo por perto ardia no estômago. Hoje, adultos, a gente sabe o quanto aquilo que machucava na época se tornou relevante para nossas vidas.
Falando em lembranças, recordo de um momento marcante que envolveu o futebol de botão. A gente jogava entre amigos praticamente todas as tardes e, naqueles dias, dois de nossos amigos estavam de relações cortadas. Não lembro o motivo, mas os beiços de cada um se espichavam quando eles se encontravam com o restante da turma. Menos mal que nenhum deixava de ir aonde os outros estivessem.
Teve um dia que o encontro para jogar botão era na casa de um deles. E ficou a dúvida se o outro iria, já que o clima não era dos melhores entre ambos. Coube a mim a tarefa de convencer o visitante a ir ao encontro. Mesmo contrariado e cheio de “poréns”, ele aceitou e confirmou que estaria lá.
A segunda parte da tarefa foi contar a história para a mãe do dono da casa um dia antes. Ela esteve visitando minha mãe e encontrei ali a oportunidade de dizer o que estava acontecendo. “Amanhã eles se acertam, confie em mim”, disse ela.
No dia seguinte, estávamos em quatro pessoas para jogar. Antes de começarmos, a mãe anfitriã sugeriu que jogássemos em duplas. Como assim? Soou meio estranho. Era simples, segundo ela: cada time faria duas jogadas (uma por jogador) e passava para o adversário fazer o mesmo. A turma aceitou experimentar aquela “nova regra”, mas tinha um detalhe: quem seriam as duplas? Ela propôs um sorteio, sorteio que ela mesma faria.
No sorteio, os “brigados” ficaram no mesmo time. Era a grande chance de ambos selarem a paz. Combinei rapidamente com meu parceiro de time que perderíamos as partidas. E foi o que aconteceu. Mesmo praticamente sem trocarem uma palavra durante a tarde, eles venceram todas. Meu companheiro e eu, inclusive, simulamos algumas discussões durante os confrontos. A mãe anfitriã sugeriu um abraço e um aperto de mão entre os vencedores. E ali, no sabor da vitória, o acerto finalmente ocorreu.
Já me organizando para ir embora, fui até à cozinha tomar água e comentei com a mãe do meu amigo sobre a sorte de eles terem ficado no mesmo time. Ela piscou para mim e disse que o sorteio foi direcionado. Eu, em contrapartida, pisquei para ela e falei que tivemos excelentes derrotas. E tudo voltou ao normal. Um plano perfeito.
O gaúcho de Rodeio Bonito, Marcio Bariviera é gerente administrativo do União Frederiquense, clube que disputa a Série A2 do Gauchão, além de assinar uma coluna semanal no jornal O Alto Uruguai, de Frederico Westphalen-RS. Rock e futebol de botão são duas paixões desde a infância (e se puder dar palhetadas ouvindo Led Zeppelin fica time completo).
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