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MUNDO BOTONISTA

Por Giovanni Nobile (17/04/2022)

Qual é a verdade que você descobriu quando virou adulto?


Antes de tudo, preciso dar crédito a esta crônica: ela é inspirada numa pergunta do post “Chopp de aleatoriedade”, do podcast “Para dar nome às coisas”. Já citei um dia aqui, mas desta vez esse post me inspirou muito justamente ao questionar, literalmente, o que trago no título desse texto. E aí tentei responder, ao meu modo, misturando com respostas de muita gente que segue o canal: quando a gente é adulto, descobre que, se dormirmos no sofá, acordaremos no sofá mesmo e não na nossa cama. Aprendemos também que, às vezes – e muitas vezes – as pessoas ruins também se dão bem. Aprendemos que, se quisermos gelo, precisamos encher a forminha no congelador. Aprendemos que a louça é infinita. Que os boletos não têm fim e sempre vencem, num 7x1 em looping. Que na vida não existe banco de reservas. Somos, sempre, titulares.


No futebol de botão, somos sempre titulares também. E somos técnicos. E narradores. E algumas vezes somos também a torcida, somos os adversários e tantos outros personagens ao redor de uma mesa ou do chão da sala. O futebol de botão, assim como ver fotografias antigas e gibis, ou ver filmes e ouvir velhas músicas... e até mesmo sentir o cheiro de um carro podem fazer com que a gente reviva sensações que nos ajudam a cuidar da criança de décadas atrás para que ela sempre viva em nós.


Quando li o questionamento desse post que citei – “Qual é a verdade que você descobriu quando virou adulto?” – é que meus piores dias são aqueles em que sou 100% adulto. Não que a vida adulta seja ruim, longe disso. É, também, uma delícia e constrói uma etapa da vida muito linda. Eu, por exemplo, sou pai, sou marido. Isso tudo faz de mim ser quem sou de um jeito único e que me forma. Mas ser um pouco criança faz a diferença na vida de cada adulto – ou deveria fazer. Os dias em que não brinco com minha filha e sou apenas um adulto ao lado dela são dias incompletos e que mostram que não consegui ser o pai que deveria ser: o pai que brinca – e que educa, claro, na brincadeira que forma, transforma e é carregada de vida.


Tempos atrás, renovei minha coleção de vidrilhas. O bom e velho futebol de botão. E, quando passo mais um final de semana com eles encaixotados, fico com a sensação de que eu poderia ter sido menos adulto, ter feito um campeonatinho, ter vibrado como criança. Dias atrás, aprendi a tocar violão e toda vez em que ele passa o dia desafinado, pendurado na parede, o silêncio traz a dureza da vida adulta, com o som do tilintar da louça na pia, em vez de acordes, nem que sejam num C-Am-F-G qualquer. E é disso que a vida precisa: de sorrisos, de acordes manjados, de sonoridade e música, das delícias do que é viver simplesmente.


Aprendemos que quando a gente é adulto, não precisa ser adulto 100% do tempo. E nem 100% nada, na verdade. Podemos ser um pouco de tudo. E, não importa o que você faça, nunca irá agradar a todos sempre. E nem nunca. Aprendemos, ainda, que um café da manhã e cafunés valem mais do que muitas festas. E aprendemos que meias somem. Assim como bolinhas de feltro, pastilhas ou dadinhos... Enfim, ao transformarmo-nos em adultos, não podemos deixar que os domingos sejam eternos juntar de cacos. E aqui, vale lembrar: aprendemos que quando a gente é adulto, não precisa ser adulto o tempo todo. Na primeira oportunidade, vai lá e mande: pro gol! Certamente serão muitos gritos de tááá nooo fiiilóóó!

Giovanni Nobile é jornalista e fundador do Águia Branca Futebol de Mesa (time que nasceu nas quadras de futsal em Santo Antônio da Platina, no Paraná, fez um jogo em 1997, ganhou, e se orgulha de ser o time há mais tempo invicto no mundo - tudo bem que nunca mais jogou, mas essa é outra história). Seu melhor resultado nas mesas foi um vice-campeonato de etapa na série extra da Liga União, cuja medalhinha tem guardada até hoje. Há mais de 10 anos, vive em Brasília. Por aqui, traz crônicas aos domingos sobre o nosso Mundo Botonista.

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nobile@mundobotonista.com.br

(061) 98105-0356

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