Painel do Mundo
Por Luiz Oliveira (20/12/2024)
Durante os campeonatos nacionais, faço a programação dos jogos no Mundo Botonista. Fico ansioso por receber a nova configuração dos grupos com aqueles que se mantém na briga pelo título. Penso sempre nas melhores histórias possíveis. E as boas narrativas nem sempre estão nos jogos mais vistosos ou grandes goleadas. Elas estão nos momentos. Nas horas certas para serem escritas e contadas.
Nosso talentoso cartunista, Marcelo Paiva, eternizou um momento em desenho. Poderia ser um momento qualquer, mas prestem atenção aos detalhes. O momento aqui é hostil. Terrível. Horroroso. Claro que essa é uma leitura particular e que sempre haverá mais visões possíveis e disponíveis para serem escritas.
A hostilidade tem versões também. Pode ser torneio, uma sede ou um jogador específico. Na verdade, se olharmos o desenho e sua característica expressionista, com pessoas deformadas, excessivamente assustadoras e sombrias, entendemos que se trata das peças que nossa própria cabeça nos prega. Ninguém ali existe para fora da nossa mente contadora de casos malucos.
Situações como a do desenho podem ser constantes, fruto da pressão que nos colocamos a cada jogo ou até mesmo a cada finalização. São os nossos monstros. E eles têm o tamanho que a nossa cabeça permite. Ou seja, sem limites. Harry Potter tem um filme da série dedicado à descoberta do que tem dentro de você para eliminar os seus demônios, mas sabemos, o caminho do enfrentamento é sempre árduo e corajoso.
A lendária Billie Jean King, gênio do tênis, foi autora do livro “Pressure is a privilege”, que traduzido significa Pressão é um privilégio. Essa frase está na entrada da Arthur Ashe, quadra onde acontecem as finais do US Open, um dos quatro torneios de maior importância do esporte. Cito o livro, mas faço uma ressalva sobre o contexto ao qual foi escrito e as discussões de gênero que ela propõe. Vale a leitura.
No final das contas, existe apenas uma história sobre a qual não há discussão. Será contada todos os anos, num domingo, perto das 14 horas. Curiosamente também é a história que todos perseguem e querem contar. A pressão de estar rodeado de câmeras, pessoas no entorno da mesa, das maiores audiências
online. É o privilégio de estar numa final e ter todos ali querendo ser você por 20 minutos.
Se você é um jogador que persegue o sonho de ser um dos melhores, saiba que estar nesse ambiente hostil da pressão é também estar sob um enorme privilégio. Portanto, aproveite. Mate seus demônios antes, durante ou depois das transmissões, mas seja o jogador que você quer que os outros vejam. Viva o esporte porque privilégios não duram para sempre, ainda mais em um esporte de alto rendimento.
A pressão é parte da vida e a gente a persegue sem prestar atenção. Quanto mais forte ela for, maior é o seu papel nessa história.
Luiz Oliveira é jogador de 12 toques e designer, trabalha com tecnologia e se empolga com facilidade ao ver estratégias bem feitas e análises de dados. Palmeirense desde sempre, professor universitário durante sete anos, baixista e DJ por diversão, além de ser um eterno estudante que está sempre atrás de algo novo para se aprofundar.
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