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MUNDO BOTONISTA

Por Sergio Travassos (25/10/2021)

Dois lados da mesma moeda


Um debate que vem sendo travado nas competições, fóruns e rodas de conversas, diz respeito ao piso ideal para a prática da modalidade 1 toque, com foco no disco liso. Há algum tempo, estamos experimentando, além das mesas de madeira de lei ou laminados de madeira, o MDF naval ou marítimo – dependendo do fabricante, tem outras nomenclaturas. Afinal, o MDF e os pisos de madeira natural são dois lados da mesma moeda.


Trago esse tema que muito me deixa intrigado, para que possamos entender o por quê do debate. Tenho cá a minha opinão. Mas emitirei no final desse texto, que é um pouco mais longo que o normal, mas vale a pena lê-lo, garanto. Ah, e quero que enviem opiniões para que possamos ampliar o entendimento. Lá no final do texto, tem o contato.


Antes de entrarmos no assunto propriamente dito, temos que identificar o que levou vários botonistas e clubes a aderirem ao MDF. Um dos pontos principais tem a ver com uma premissa básica da economia: oferta e demanda. Praticamente todos os clubes e botonistas adquiriam mesas de madeira, portanto, a demanda estava no topo. No entanto, a oferta sempre foi pequena. O primeiro motivo dessa oferta menor é o número pequeno de profissionais especializados na produção de mesas para a modalidade 1t. Algo que é bem diferente do fabrico de uma mesa de jantar, por exemplo. Todos que buscam entender mais do jogo, sabem que a produção e cuidados de uma mesa de jogo têm seus melindres. A segunda questão é ecológica. Isso mesmo. Com o desmatamento acelerado, várias árvores entraram em extinção e, portanto, passaram a ser protegidas pela União. Imbuia e Gonçalo Alves, por exemplo, muito usadas na fabricação das mesas, tiveram drástica diminuição na produção. Com isso, a oferta era cada vez menor e, portanto, detectamos um outro fator para a entrada do MDF: os preços bem altos. 


Quanto mais distante da região Sul, que ainda tem as árvores capazes de atender aos praticantes da modalidade 1Toque e, também, um certo número de artesãos competentes, maior o custo da mesa, pois entram outros dois pontos importantes, a logística e os impostos. Oferta pequena, demanda crescente, o desmatamento e os poucos artesãos culminam no preço alto, em comparação ao MDF. É, praticamente, uma desventura em série para que o clube consiga disponibilizar bons campos para os seus associados. Além disso, a manutenção e os cuidados necessários para o enceramento, armazenagem e utilização, no campo de madeira, são constantes.



A partir daí, vários botonistas passaram a fazer experimentos, inclusive com materiais não-orgânicos. Soube que até vidro foi testado. Mas, sabemos, o preço do vidro também está nas alturas. Aí, as mesas de MDF naval foram sendo testadas. Claro, houve e ainda há resistência quanto a essas mesas. Mas ela já vem ocupando cada vez mais espaço dentro de clubes, principalmente do Nordeste, apesar de que na Bahia, principal polo de campeões da modalidade, a madeira ainda é figura central nos salões dos grandes clubes. Mas, em outros centros – Sergipe, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Paraíba, principalmente, há clubes em que 100% das mesas são de MDF naval.


Então, decidi conversar com atletas e dirigentes de várias regiões, alguns deles com títulos nacionais e acostumados a viajar para competições oficiais ou amistosas. Indaguei aos colegas, de forma bem objetiva, quais seriam as vantagens e desvantagens e a preferência deles em relação aos dois palcos de jogo: MDF e madeira. Além de conversas por telefone e presenciais, foram enviadas mensagens por WhatsApp. Óbvio que nem todos conseguiram responder a tempo. Nessa pesquisa, atletas das regiões Sul, Sudeste e Nordeste responderam. Ao todo foram 16 respostas. Mesmo preferindo um piso ou outro, todos traçaram elogios e algumas críticas aos dois tipos de materiais. E o assunto é tão polêmico que há um empate técnico na preferência. Do total de respostas, oito atletas preferiram os campos de MDF naval, enquanto cinco deles escolheram a madeira ou laminado de madeira como o piso ideal. 

Três dos botonistas, dois do Sudeste e um da Bahia, informaram não ter preferência alguma. Gabriel, de Salvador, foi um dos que afirmou que não enxerga muita diferença. “O que prefiro é uma mesa boa, que tenha um deslizamento equilibrado”. 


Dos praticantes que preferiram a madeira, a maioria foi da Bahia e das regiões Sul e Sudeste. Segundo o presidente da Federação Gaúcha, Luís Lima, o MDF será o futuro, mas, prefere a madeira. “A tendência é que o MDF passe a dominar os clubes, por causa do custo final e da pouca manutenção. Aqui no Sul, há pouquíssimas mesas assim, pois ainda temos bons fabricantes e a madeira, em relação às demais regiões, ainda não é tão escassa. Por isso, preferimos a madeira”.


Três campeões de peso opinaram positivamente em favor do campo de madeira: Franklin (RN), Tosta e Dudinha (BA). Para Franklin, apesar do deslizamento melhor das mesas de MDF, ele prefere o campo de madeira, por causa de um menor desvio no deslocamento do botão na mesa. Tosta aponta que a madeira confere um melhor equilíbrio no deslizamento dos botões, enquanto o MDF torna o jogo mais imprevisível. Dudinha concorda com Tosta em relação ao deslizamento e aponta o menor índice de descaídas como fator de sua preferência pela madeira. No entanto, ele informa que está gostando também do MDF.


Os entrevistados de Sergipe, Paraíba e Pernambuco, além do Correia, do Rio Grande do Norte, preferiram o MDF. Correia é bem radical e afirma que o MDF é superior em todos os aspectos, em comparação à madeira. Além disso, ele cita a questão do custo de produção como fator importante para a democratização do desporto. “Antes, não era qualquer um que conseguia adquirir uma mesa de qualidade. Com o MDF, isso é possível”. Já Zé Roberto, de Sergipe, acredita que o MDF confere um deslizamento mais parecido entre uma mesa e outra do mesmo material, mantendo um padrão e, segundo ele, facilitando a adaptação. Allan, do clube Mesa Verde, também de Sergipe, ainda chama a atenção para a facilidade de manutenção e para o fato de ser ecologicamente correto.


Tal qual o debate que existe em relação ao gramado sintético, misto ou natural, no futebol profissional, há muito o que aprender e o debate ainda vai durar muito. O que é, sempre, bom para o desenvolvimento do desporto. 


Agora, emitirei a minha opinião. Ao meu ver, é importante que tenhamos mais e mais opções de piso. Apesar de curtir a mesa em laminado de madeira, sou extremamente favorável ao MDF naval. Poderemos nos adaptar com a velocidade da bolinha e, com estruturas complementares embaixo do campo, poderemos evitar os desníveis que tanto alteram as trajetórias dos botões. É uma questão de treinamento, mesmo. No clube ao qual pertenço, tínhamos mesas de madeira que demandavam muitos cuidados e, apesar disso, sempre geravam diferenças grandes no jogo. Ora deslizava muito e ora, pouco. Quando decidimos adquirir as folhas de MDF naval, barateamos consideravelmente o custo e o tempo de produção. Para terem uma ideia, em um dia apenas conseguimos produzir três mesas perfeitas. E, mesmo com o custo com as barras de alumínio a serem aplicadas embaixo do campo, ainda fica bem mais em conta do que a mesa de madeira. Eliminam-se, por sinal, as barras laterais do campo. Além disso, podem ser criadas texturas diferentes, embelezando as mesas, caso queiramos.


Para que os clubes e os seus atletas possam, cada vez mais, ter acesso a um bom campo para treinamento e jogos, melhorando a técnica dos botonistas, o MDF naval surge como uma opção de qualidade e com baixo custo. Porém, não devemos nos esquecer dos cuidados necessários para cuidar dos campos. O MDF não exige tanto lixamento e nem tanta cera, apenas uma finíssima camada já colabora com a qualidade do jogo. O que muitos dos entrevistados reclamam em relação à velocidade da “bolinha” tem muito a ver com o exagero na aplicação da cera. Aconselho uma boa conversa com artesãos e membros responsáveis pela manutenção dos campos que já possuem esse piso, nos vários clubes. Que fique claro que não sou defensor de um piso em comparação ao outro. Sou favorável, sim, a que tenhamos opções que deem oportunidade para que os clubes tenham mais campos de qualidade e que os atletas possam, inclusive, ter um centro de treinamento particular em casa, propiciando uma melhora na qualidade dos nossos botonistas, algo que sempre é importante para o progresso do desporto. E aí, qual a sua opinião?

Sergio Travassos é diretor do Santa Cruz F.C. há doze anos, jornalista com outras duas formações, Educação Física e Marketing, que atua há muito tempo em prol do desporto pernambucano. Tendo passagens pela Federação Pernambucana e CBFM. Sendo uma das figuras que mais defende o jogo de futebol de mesa, independente da regra de atuação, bem como que as competições sejam feitas em locais públicos, visando atrair mais visibilidade para o futmesa.

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travassos@mundobotonista.com.br
(081) 97100-2825

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