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MUNDO BOTONISTA

Por José Carlos Cavalheiro (03/08/2023)

A volta dos que nunca foram.

Tenho uma grande resistência em escrever textos para o Mundo Botonista na primeira pessoa do singular, pois o espírito desta coluna aborda temas de ordem geral, indo muito além do âmbito pessoal. Entretanto, o assunto específico a ser abordado aqui é íntimo e não me sinto à vontade para escrever sobre o que poderiam ser as experiências específicas de cada atleta que pensa ou tenta retornar ao futebol de mesa competitivo. 


O conteúdo deste texto está mais de acordo com a coluna "Losers", do Luís Oliveira, pois se aproxima aos temas levantados pelo amigo paulista que abordam o insucesso, a perda e o revés, pontos muito presentes na vida daqueles que resolvem voltar ao esporte depois de um tempo de afastamento. Contarei, então, um pouco da minha experiência pessoal.

Parei de jogar, oficialmente, no final de 2005, pois fui selecionado para voltar a trabalhar na aviação comercial em uma empresa aérea sediada na capital paulista. Mesmo longe, tentei participar das competições no Rio de Janeiro e procurei um clube em São Paulo para me filiar.


Entretanto, a escala de trabalho, que muitas vezes envolvia sábados, domingos e feriados, me impedia de ter o comprometimento, que sempre prezei, com os clubes e meus companheiros de equipe. Posteriormente, vivi três anos em outro continente. Quando retornei ao Brasil foi por um curto período de um ano e cinco meses, residindo em uma cidade onde não se jogava, oficialmente, a modalidade 12 Toques. Jundiaí fica a cerca de uma hora de São Paulo ou de Itu.


Nesse momento, eu já era pai de uma criança pequena, o que, novamente, me impediu de ter um envolvimento sério com o esporte. De lá vim para Bogotá, cidade da minha esposa, onde resido há 12 anos. Obviamente, aqui não existe absolutamente nada relacionado com o futebol de mesa e eu tampouco tenho a determinação, o tempo e a paciência para desenvolver em pessoas que não possuem a cultura deste jogo presentes em suas vidas um hábito, uma paixão, vinda de outra parte.


Nesse intervalo de tempo, de passagem pelo Rio de Janeiro, participei de duas competições e meu rendimento foi satisfatório, apesar de não haver jogado nas séries principais da categoria máster, pois estava ausente do ranking classificatório. Um terceiro lugar e um título de campeão me deram a ilusão de que poderia retornar e, em pouco tempo, voltar a ser o bom jogador de antes. Estava redondamente enganado. Envelheci, os reflexos, a vista, a coluna não eram mais os mesmos.


A 12 Toques também mudou muito, o que dificulta o retorno de alguém parado há tanto tempo. A regra mudou, os posicionamentos defensivos estão a cada dia mais elaborados, o nível das competição está absurdo, com gente que se dedica de uma maneira efetiva ao treinamento. O equipamento de jogo não é mais o mesmo, além dos botões argola, temos vitrines, fechados com pin embutido e defensores de grande altura. O próprio material do qual é feita a bolinha mudou. Me dei conta de tudo isso quando, durante a Pandemia de COVID-19, voltei a interagir fortemente com pessoas da modalidade. 


Motivado, tirei a mesa da Temper Sports (que nem é mais produzida) do depósito e a coloquei na sala para jogar sozinho. No início, meu rendimento foi sofrível, embora tenha melhorado com o tempo. Em viagens que fiz ao Rio de Janeiro, depois do fim a emergência sanitária, me dei conta do tamanho da minha defasagem e fiquei com um sentimento de que nunca voltaria a ser o mesmo.


Deixo aqui um conselho: o de nunca se afastar, se isso for possível. Regressar, mesmo para aqueles, que como eu, mantêm uma paixão pelo esporte é uma tarefa árdua. Para outros apaixonados é como o lugar comum de voltar a andar de bicicleta, algo que nunca se esquece e que se retoma ao instante. Lamento nunca ter aprendido a pedalar.

Biblioteca de "É tudo Botão"
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Formado em Agronomia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, José Carlos Marques Cavalheiro, nasceu na capital carioca no ano de 1962. Foi atleta de futebol de mesa na modalidade Bola 12 Toques de 1998 a 2005, quando foi viver em diferentes lugares: São Paulo, Paris, Jundiaí e Bogotá, onde atualmente reside. É o responsável pelo site da FEFUMERJ desde dezembro de 2004. Atualmente exerce o cargo de Diretor de Comunicação da entidade.

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cavalheiro@mundobotonista.com.br
fefumerj@fefumerj.com.br


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